BACUARA

BACUARA

“Ser bacuara não é empreito comum, sequer é volição, sequer é objetivo, é pura descoberta, epifania grata, tudo nele vem naturalmente e tão necessariamente como o primeiro suspiro, aquele que se julga ter todo o saber decididamente não o é. Bacuara é luz entendida, jamais contemplada, é o círio permanentemente aceso contra o vigor de Éolo em apagá-lo. O bacuara apreende e muito, muito depois aprende e novamente apreende e assim em sucessivas pororocas centrifuga e fala.”

terça-feira, 30 de março de 2010

O LIBERTADOR DA IRLANDA



"Seu nome mostra que é judeu de origem.

Seu pai se convertera. Achou-se assim melhor neste mundo e espero que se achará melhor no outro.

Tem-se o hábito de desconhecer este povo grande e oprimido, os judeus. São cruelmente perseguidos por pessoas que se dizem cristãs. Mas nunca um verdadeiro cristão perseguiu alguém. Sentem a perseguição da calúnia mais vivamente do que a perseguição da fortuna e da tortura. Tenho a felicidade de conhecer algumas famílias judias em Londres e nunca encontrei mulheres mais bem-educadas, `gentlemen´ mais humanos e mais afáveis e melhor dotados.

Não se poderá supor, portanto, que quando falo de Disraeli como descendente de judeus queira denegri-lo a este respeito. Os judeus foram o povo escolhido por Deus.

Havia entre eles, porém, ímpios, e é num desses ímpios, certamente, que Disraeli tira a sua origem.

Possui precisamente as qualidades do ladrão impenitente que morreu na cruz e cujo nome deve ter sido Disraeli.

Sim, pelo que vejo, Disraeli descende dele e, sob essa impressão, perdôo agora ao herdeiro do ladrão blasfemador, que morreu na cruz."



BACUARA: Daniel O'Connell

DEMOCRACIA É UNIVERSAL


”O primeiro e mais fundamental dever do advogado é ser o juiz inicial da causa que lhe levam para patrocinar”, ensina à certa altura. “Incumbe-lhe, antes de tudo, examinar minuciosamente a hipótese para ver se ela é realmente defensável em face dos preceitos da justiça. Só depois de que eu me convenço de que a justiça está com a parte que me procura é que me ponho à sua disposição”. A regra vale também para velhos amigos? Claro que sim: ”Não seria a primeira vez que, procurado por um amigo para patrocinar a causa que me trazia, tive de dizer-lhe que a justiça não estava do seu lado, pelo que não me era lícito defender seus interesses”.

Outros trechos ensinam a proteger os códigos éticos da profissão de socos e pontapés hoje desferidos tão rotineiramente: ”A advocacia não se destina à defesa de quaisquer interesses. Não basta a amizade ou honorários de vulto para que um advogado se sinta justificado diante de sua consciência pelo patrocínio de uma causa. (…) O advogado não é, assim, um técnico às ordens desta ou daquela pessoa que se dispõe a comparecer à Justiça. (…) O advogado é, necessariamente, uma consciência escrupulosa ao serviço tão só dos interesses da justiça, incumbindo-lhe, por isto, aconselhar àquelas partes que o procuram a que não discutam aqueles casos nos quais não lhes assiste nenhuma razão”.

A aula termina com palavras que deveriam ser reproduzidas em bronze nos pórticos e auditórios das faculdades de Direito: ”É indispensável que os clientes procurem o advogado de suas preferências como um homem de bem a quem se vai pedir conselho. (…) Orientada neste sentido, a advocacia é, nos países moralizados, um elemento de ordem e um dos mais eficientes instrumentos de realização do bem comum da sociedade”.

Na contra-revolução de 64 - que defendeu no início - , logo percebeu que se tratava de uma ditadura e chegou até a ser preso. Nesta ocasião disse uma frase que ficará nos anais da História do Brasil, ao responder a um carcereiro que procurava justificar o regime que vigorava no país. "Trata-se de uma democracia à brasileira", explicou o carcereiro. "Existe peru à brasileira, mas não existe democracia à brasileira. A democracia é universal", ensinou o grande jurista.


BACUARA: Heráclito Sobral Pinto

segunda-feira, 29 de março de 2010

JUSTIÇA

"Coloco-me ali vendo e tentando enxergar o que me é dado com câmera construída de matéria do meu cérebro como se fosse atilada de visão mágica e atiro, certeira, no coração do problema. Vista aguçada pela tranqüilidade em que vivo até a crueldade do momento, distancio-me da minha quietude, e como, também sacrificado mergulho na vida dos principais personagens envolvidos nos delitos, desde a sua prática até o julgamento: os réus, família, a polícia, o promotor, o defensor, o público, o juiz, e ela, a implacável dor; vidas cruzadas por aspectos comuns, humanos; e a diferença de funções que cabe a cada um e a todos na sociedade, e ainda assim me pergunto? O que é JUSTIÇA.”



BACUARA: DA VEREDA

domingo, 28 de março de 2010

A VIDA É COMPLICADA


O liberal é humilde. Reconhece que o mundo e a vida são complicadas. A única coisa de que tem certeza é que a incerteza requer a liberdade, para que a verdade seja descoberta por um processo de concorrência e debate que não tem fim. O socialista, por sua vez, acha que a vida e o mundo são facilmente compreensíveis; sabe de tudo e quer impor a estreiteza de sua experiência – ou seja, sua ignorância e arrogância – aos seus concidadãos.


BACUARA: Raimond Aron

sábado, 27 de março de 2010

INFINITO


“De onde as coisas extraem o seu nascimento aí também é onde se cumpre a sua dissolução segundo a necessidade; com efeito, reciprocamente sofrem o castigo e a culpa da injustiça, segundo a ordem do tempo.” O apeiron não é nenhum elemento determinado, mas "tudo inclui e tudo governa". Parece ter sido esta a sua própria expressão. o todo. E, segundo a tradição, foi o próprio filósofo que designou como divino o apeiron, que sem cessar produz novos mundos para outra vez os assimilar. A saída das coisas do apeiron é uma separação dos contrários que lutam neste mundo, a partir do todo originariamente unido. A isto se refere aquela grande máxima, a única que nos foi diretamente transmitida: Onde estiver a origem do que é aí também deve estar o seu fim, segundo o decreto do destino. Porque as coisas têm de pagar umas às outras castigo e pena, conforme a sentença do tempo.


BACUARA: Anaximandro de Mileto

sexta-feira, 26 de março de 2010

SE CRÊ DEVE SER LIVRE


"Estou inclinado a acreditar que se a fé for deficiente (num homem) ele deve estar sujeito; e se ele crê, deve ser livre"
"Quando a religião do povo é destruída, a dúvida toma conta das mais altas capacidades do intelecto e semi-paralisa todas as outras. Tal condição não pode senão enervar a alma, afrouxar as fontes da vontade, e preparar o povo para a servidão. Quando não há mais qualquer princípio de autoridade na religião do que na política, os homens ficam rapidamente aterrorizados com a aparência dessa independência ilimitada. O despotismo deve governar sem a fé, mas a liberdade não poderá fazê-lo. A religião é muito mais necessária nas repúblicas democráticas do que em qualquer outra. Como é possível que a sociedade escape da destruição se os laços morais não forem apertados na proporção em que os laços políticos são afrouxados?


BACUARA: Alexis de Tocqueville

quinta-feira, 25 de março de 2010

MORALIDADE AMPLIADA


“[A liberdade] é um fruto delicado da civilização madura... Em todas as épocas o progresso é perturbado por seus inimigos naturais, pela ignorância e pela superstição, pelo desejo de conquistas e pelo amor pelo conforto, pelo desejo de poder dos homens fortes e pelo desejo de se alimentar dos homens pobres... Em qualquer tempo, os sinceros amantes da liberdade foram raros, e seus triunfos confiados às minorias, que acabaram por prevalecer ao se associarem com pessoas cujos objetivos por vezes se diferiam dos seus. Essa associação, sempre perigosa, foi por vezes desastrosa... O teste mais acurado, a partir do qual nós podemos julgar se um país é realmente livre, é a quantidade de segurança da qual gozam suas minorias...”

Por que a liberdade se tornou mais segura nos Estados Unidos do que em qualquer outro lugar? “A liberdade”, escreveu Acton para Mary, filha de Gladstone, “depende da divisão do poder. A democracia tende a unir o poder... o federalismo é o único controle possível sobre a concentração e o centralismo”

Em sua famosa aula inaugural, ele insistiu que os políticos deveriam ser julgados como as pessoas comuns: “Eu os encorajo a nunca desvalorizar sua moeda moral ou a rebaixar seus padrões de integridade, mas sim a submeter os outros à norma suprema que governa as suas próprias vidas, e a não permitir que nenhum homem e nenhuma causa escapem da pena eterna que a história tem o poder de infligir sobre a injustiça”.

“A história”, continuava, “ensina que o certo e o errado são distinções reais. As opiniões se alteram, os costumes mudam, crenças ascendem e decaem, mas a lei moral está escrita nas tábuas da eternidade”.

“Os princípios da verdadeira política são os da moralidade ampliada; eu não admito e nunca admitirei qualquer outro”.

“E, lembre-se, quando se tem uma concentração de poder em poucas mãos, freqüentemente homens com mentalidade de gangsters detêm o controle. A história provou isso. Todo o poder corrompe: o poder absoluto corrompe absolutamente.”
Em carta ao Bispo M.Creighton, 1887.

BACUARA: LORD ACTON

quarta-feira, 24 de março de 2010

O PROGRESSO


Não se deve supor que nos tempos de decadência nem nos tempos de tirania e obscurantismo, que às vezes se sucedem aos séculos mais brilhantes, o espírito humano fique incapacitado para o progresso. As artes mecânicas, o comércio, os usos da vida civil fazem nascer uma multidão de reflexões que se difundem entre os homens, se misturam com a educação e crescem de uma geração para outra. Tempos mais felizes se preparam, lentamente, é certo, mas com a inexorabilidade natural dos rios que às vezes se ocultam sob o solo, para depois reaparecerem mais vigorosos pela força das águas captadas no seio da terra.
Uma arte, uma vez inventada, chega a ser um objeto de comércio que se mantém por si mesma. Não se deve recear que a arte de fazer veludo, por exemplo, se perca, enquanto houver gente para comprar este produto. As artes mecânicas, portanto, sobrevivem no meio da decadência das letras e do bom gosto. De forma que o progresso material não quer dizer que um país não esteja vivendo uma época de decadência espiritual e moral ou um sombrio período de obscurantismo e tirania.
Apesar da ignorância que reinou na Europa e no Império grego a partir do século V, as artes mecânicas se enriqueceram com mil descobrimentos novos, sem que haja desaparecido nenhuma delas que tenha importância. Sem que nenhuma delas se tenha perdido.
A marinha se aperfeiçoou, e também a arte do comércio. Pois a esse século se deve o uso das letras de câmbio, a ciência da manutenção de uma escrita comercial, que é a forma mais perfeita da contabilidade. O papel de algodão foi inventado em Constantinopla e o de trapos no Ocidente, assim como vidro, as lentes, a arte de fazer espelhos, os óculos, as bússolas, a pólvora, os moinhos de ventos e de água, os relógios e uma infinidade de outras artes ignoradas na Antiguidade.
A arquitetura nos oferece um exemplo da independência recíproca entre o gosto e a mecânica nas artes. Não há edifício de gosto pior do que as construções góticas, que são as mais audaciosas e que exigiram maior trabalho e engenho para sua execução. É certo que esse engenho pode ter sido o coroamento de uma série de experiências, pois as ciências matemáticas estavam então na infância, e a resistência das abobadas e dos tetos não se podia calcular com precisão.
Foi necessário que essas artes se cultivassem e se aperfeiçoassem para que pudessem nascer a verdadeira Física e a Alta Filosofia. Chegaram, finalmente, às condições que possibilitaram experiências exatas e demonstrativas. Sem a invenção das lentes, nunca se teria podido calcular as causas dos movimentos dos astros. Sem a das bombas aspirantes, nunca se teria descoberto o peso do ar.
O gosto pela técnica pode perder-se por uma quantidade de causas puramente morais. Um espírito de frouxidão e preguiça difundido sobre uma nação, o pedantismo, o desprezo pelos homens de letras, a extravagância de critério dos governantes, a tirania e a anarquia - são causas dessa corrupção contra o progresso.
O mesmo não ocorre com as ciências especulativas. Enquanto sobreviver a língua em que estão escritos os livros e enquanto houver um certo número de homens de letras, a Humanidade não se esquecerá do que aprendeu anteriormente. É possível que não se aperfeiçoem, então, as ciências, porque poucos homens terão condições de dedicar-se a elas. Mas nem assim se perdem por completo. Os retóricos que passaram para a Itália depois da tomada de Constantinopla, por exemplo, sabiam tudo que se tinha sabido na Grécia antiga.
Faltavam-lhes, é certo, o estímulo. Faltava-lhes a crítica. Eram apenas sábio. Mas isto é o essencial, pois a ciência aplicada é apenas uma decorrência da sabedoria pura e desinteressada.
Já a invasão dos bárbaros no Oriente foi mais funesta. Aniquilando a língua latina, fizeram com que se perdesse o conhecimento dos livros escritos nesse idioma. E teríamos perdido por completo esses conhecimentos se os monges não nos houvessem conservado uma boa parte desses livros.
As artes, porém, persistiram, apesar dessa calamidade geral. Para destrui-las, só com golpes mais violentos. Apenas os turcos, na ferocidade de suas conquistas, puderam provocar uma regressão da técnica. Esse fato deve ser atribuído menos à sua religião, que não impediu que os árabes da Espanha fossem altamente instruídos em relação a seu tempo, do que à natureza tipo despótico do governo que praticavam.


BACUARA: Jacques Turgot

O HOMEM É UM FIM EM SI MESMO


“Minha filosofia, em essência, é o conceito do homem como ser heróico, que tem sua felicidade como objetivo moral de sua vida, a realização produtiva como atividade mais nobre e a razão como seu único absoluto.”
  1. A realidade existe, independentemente da observação do homem, de seus sentimentos, desejos, esperanças ou medos.
  2. A razão é o único meio do homem para perceber a realidade, sua única fonte de conhecimento, seu único guia de ação e seu meio básico de sobrevivência
  3. O homem, cada homem, é um fim em si mesmo e não um meio para o fim de outros homens. Deve existir em função de seus próprios propósitos, não se sacrificando por outros nem sacrificando outros por ele.
  4. A liberdade, num sistema político onde os homens se tratam como negociantes livres, em trocas voluntárias, com mútuo benefício e nunca como vítimas e executores, senhores e escravos.
BACUARA: Ayn Rand

terça-feira, 23 de março de 2010

IMPRENSA LIVRE



“Jurei, perante o altar de Deus, eterna hostilidade a toda forma de tirania sobre o espírito do homem”.
“Não sei de nenhum depositário seguro do poder último da sociedade senão o próprio dono e, se não o julgamos suficientemente esclarecido para exercer controle com critério sadio, o remédio não está em tirá-lo dele, mas esclarecê-lo pela educação”.
“Se uma nação espera ser ignorante e livre num estado de civilização, espera o que jamais existiu e jamais existirá.
Os funcionários de todo governo têm propensão para dominar, à vontade, a liberdade e a propriedade de seus constituintes.
Para estas não há depósito seguro senão nas mãos do próprio povo, nem poderão estar seguras sem informações.
Onde a imprensa é livre e todo homem sabe ler, tudo estará em segurança”.
“Um sistema de instrução geral que atinja todas as classes de nossos cidadãos, desde os mais ricos até os mais pobres, da mesma maneira, foi a primeira e será a última de todas as preocupações públicas em que me permitirei interessar”.


BACUARA: Thomas Jefferson

domingo, 21 de março de 2010

EGOÍSMO BENÉFICO


"Apesar do seu egoísmo e rapacidade, embora pensem apenas nos seus próprios interesses, embora o único fim que se propõem alcançar a partir de milhares de empregados ao seu serviço seja a gratificação dos seus próprios desejos vãos e insaciáveis, os ricos partilham com os pobres o produto de todos os seus progressos. São guiados por uma mão invisível que os leva a fazer uma distribuição dos bens necessários à vida praticamente equivalente à que teria sido feita se a terra tivesse sido dividida por todos os seus habitantes em partes iguais, e assim, sem o pretenderem ou sem que o saibam, promovem o interesse da sociedade, e proporcionam os meios para a multiplicação da espécie".

BACUARA: Adam Smith

sexta-feira, 19 de março de 2010

MÉRITO E NÃO CATEGORIA



"Nosso regime político não se propõe tomar como modelo as leis de outros: antes somos modelo que imitadores. Como tudo nesse regime depende não de poucos, mas da maioria, seu nome é democracia. Nela, enquanto no tocante às leis todos são iguais para a solução de suas divergências particulares, no que se refere à atribuição de honrarias o critério se baseia no mérito e não na categoria a que se pertence; inversamente, o fato de um homem ser pobre não o impede de prestar serviços ao Estado."

BACUARA: Péricles de Atenas

quinta-feira, 18 de março de 2010

DE QUEM RECEBIA ORDENS


Tomemos como exemplo a liberdade de imprensa. Se for dono de todas as máquinas impressoras, o governo determinará o que deve e o que não deve ser impresso. Nesse caso, a possibilidade de se publicar qualquer tipo de crítica às ideias oficiais torna-se praticamente nula. A liberdade de imprensa desaparece. E o mesmo se aplica a todas as demais liberdades.

Quando há economia de mercado, o indivíduo tem a liberdade de escolher qualquer carreira que deseje seguir, de escolher seu próprio modo de inserção na sociedade. Num sistema socialista é diferente: as carreiras são decididas por decreto do governo. Este pode ordenar às pessoas que não lhe sejam gratas, àquelas cuja presença não lhe pareça conveniente em determinadas regiões, que se mudem para outras regiões e outros lugares. E sempre há como justificar e explicar semelhante procedimento: declara-se que o plano governamental exige a presença desse eminente cidadão a cinco mil milhas de distância do local onde ele estava sendo ou poderia ser incômodo aos detentores do poder.

É verdade que a liberdade possível numa economia de mercado não é uma liberdade perfeita no sentido metafísico. Mas a liberdade perfeita não existe. É só no âmbito da sociedade que a liberdade tem algum significado. Os pensadores que desenvolveram, no século XVIII, a ideia da "lei natural" - sobretudo Jean-Jacques Rousseau - acreditavam que um dia, num passado remoto, os homens haviam desfrutado de algo chamado liberdade "natural". Mas nesses tempos remotos os homens não eram livres - estavam à mercê de todos os que fossem mais fortes que eles mesmos. As famosas palavras de Rousseau: "O homem nasceu livre e se encontra acorrentado em toda parte", talvez soem bem, mas na verdade o homem não nasceu livre. Nasceu como uma frágil criança de peito. Sem a proteção dos pais, sem a proteção proporcionada a esses pais pela sociedade, não teria podido sobreviver.

Liberdade na sociedade significa que um homem depende tanto dos demais como estes dependem dele. A sociedade, quando regida pela economia de mercado, pelas condições da economia livre, apresenta uma situação em que todos prestam serviços aos seus concidadãos e são, em contrapartida, por eles servidos. Acredita-se, que existem na economia de mercado chefões que não dependem da boa vontade e do apoio dos demais cidadãos. Os capitães de indústria, os homens de negócios, os empresários seriam os verdadeiros chefões do sistema econômico. Mas isso é uma ilusão. Quem manda no sistema econômico são os consumidores. Se estes deixam de prestigiar um ramo de atividades, os empresários deste ramo são compelidos ou a abandonar sua eminente posição no sistema econômico, ou a ajustar suas ações aos desejos e às ordens dos consumidores.

Uma das mais notórias divulgadoras do comunismo foi Beatrice Potter, nome de solteira de Lady Passfield (também muito conhecida por conta de seu marido Sidney Webb). Essa senhora, filha de um rico empresário, trabalhou quando jovem como secretária do pai. Em suas memórias, ela escreve: "Nos negócios de meu pai, todos tinham de obedecer às ordens dadas por ele, o chefe. Só a ele competia dar ordens, e a ele ninguém dava ordem alguma." Esta é uma visão muito acanhada. Seu pai recebia ordens: dos consumidores, dos compradores. Lamentavelmente, ela não foi capaz de perceber essas ordens; não foi capaz de perceber o que ocorre numa economia de mercado, exclusivamente voltada que estava para as ordens expedidas dentro dos escritórios ou da fábrica do pai.


BACUARA: Ludwig von Mises

quarta-feira, 17 de março de 2010

A AÇÃO CONCORDA COM A NORMA


Não há poder inato, nem direito político divino. Uma boa ação concorda com uma norma. Existem três tipos de normas morais: a divina, a política , e a da opinião pública. O bem é o prazer, ou aquilo que o provoca, e o mal é a dor, ou aquilo que a provoca.

Todos os homens nascem e são iguais por natureza. Usam a razão, um bem comum, para construir a sociedade, e dela partilhar os resultados. O Estado vem do direito natural, como o direito à vida, à liberdade, à propriedade. O Estado deve promulgar o bem estar geral. O governo não pode ser tirânico, nem patriarcal.

O Estado não deve ser baseado na fé, nem na religião. Um governante, um príncipe, é necessário para assegurar a validade do pacto social, mas o direito dele vem do povo, não da religião. E ele é submisso às leis. Não pode tudo. Se falhar, o povo tem direito à revolução.


BACUARA: John Locke

terça-feira, 16 de março de 2010

EQUIDADE E JUSTIÇA


Da mesma forma que cada pessoa deve decidir, através de uma análise racional, o que é que constitui o seu bem, isto é, o sistema de objectivos que lhe é racional prosseguir, também um conjunto de pessoas deve decidir, de uma vez por todas, o que é para elas considerado justo ou injusto. É a escolha que será feita por sujeitos racionais nesta situação hipotética em que todos beneficiam de igual liberdade - aceitando por agora que o problema colocado por escolha tem solução - que determina os princípios da justiça.
Na teoria da justiça como equidade, a posição da igualdade original corresponde ao estado natural na teoria tradicional do contrato social. Esta posição original não é, evidentemente, concebida como uma situação histórica concreta, muito menos como um estado cultural primitivo. Deve ser vista como uma situação puramente hipotética, caracterizada de forma a conduzir a uma certa concepção da justiça . Entre essas características essenciais está o facto de que ninguém conhece a sua posição na sociedade, a sua situação de classe ou estatuto social, bem como a parte que lhe cabe na distribuição dos atributos e talentos naturais, como a sua inteligência, a sua força e mais qualidades semelhantes. Parto inclusivamente do princípio de que as partes desconhecem as suas concepções do bem ou as suas tendências psicológicas particulares. Os princípios da justiça são escolhidos a coberto de um véu de ignorância. Assim se garante que ninguém é beneficiado ou prejudicado na escolha daqueles princípios pelos resultados do acaso natural ou pela contingência das circunstâncias sociais. Uma vez que todos os participantes estão em situação semelhante e que ninguém está em posição de designar princípios que beneficiem a sua situação particular, os princípios da justiça são o resultado de um acordo ou negociação equitativa. (…) Pode dizer-se que a posição original constitui o statu quo inicial adequado, pelo que os acordos fundamentais estabelecidos em tal situação são equitativos. Isto explica a propriedade da designação «justiça como equidade»: ela transmite a ideia de que o acordo sobre os princípios da justiça é alcançado numa situação inicial que é equitativa. Não decorre daqui que os conceitos de justiça e de equidade sejam idênticos, tal como também não decorre da frase «a poesia como metáfora» que os conceitos de poesia e de metáfora o sejam.

BACUARA: John Rawls

RAZÃO E FÉ



"Todas as religiões são criação humana equivalentes e por conveniência pessoal e pelas circunstâncias escolhemos uma."

"Na natureza nada é supérfluo."

"Quem fala sobre o que não é da sua conta, escuta o que não gosta."

"Conhecimento, estupidez, riqueza e pobreza não podem ser escondidas por muito tempo."


BACUARA: Averróis

BASTA VIVER


Afeto, amor, compreensão - eis os alicerces da vida.
Escrevemos com amor o poema da adolescência.
Com a música do amor, orquestramos a grande canção da existência.

E tu, cético diante da ternura,
impermeável ao sentimento,
aprende esta verdade:
A vida é Amor, e nada mais!

BACUARA: Omar Kayan

segunda-feira, 15 de março de 2010

DE VOLTA AO SIÃO


"A questão judaica existe por toda parte onde os judeus vivem, por menor que seja o seu número. Creio compreender o anti-semitismo, que é um movimento muito complexo. Em minha qualidade de judeu, encaro o anti-semitismo sem ódio e sem medo. Para resolver a questão judaica, é preciso transformá-la numa questão política universal, que deverá ser regulada pelos conselhos dos povos civilizados. Na noite de sua história, os judeus não deixaram de sonhar com este sonho real: 'no ano que vem, em Jerusalém'. Esta é a nossa antiga palavra. Trata-se agora de demonstrar que o sonho pode-se transformar num pensamento luminoso".

BACUARA: Theodor Herzl

domingo, 14 de março de 2010

LINGUAGEM PERVERTIDA


"O meio mais eficaz de fazer com que as pessoas aceitem os valores aos quais terão de servir é persuadi-las de que tais valores são, na realidade, os mesmos que elas, ou pelo menos as mais esclarecidas entre elas, sempre defenderam, mas que antes não eram devidamente compreendidos ou apreciados. Leva-se o povo a abandonar os velhos deuses pelos novos, sob o pretexto de que estes são de fato como por instinto supunham que fosse, embora até o momento só o percebessem de maneira vaga. E a técnica mais eficiente para a consecução desse fim é continuar a usar as velhas palavras, alterando-lhes, porém, o sentido. Poucos aspectos dos regimes totalitários despertam tanta confusão no observador superficial e são, ao mesmo tempo, tão caraterísticos do clima intelectual desses sistemas, como a completa perversão da linguagem, a mudança de sentido das palavras que expressam os ideais dos novos regimes.
Nesse contexto, a palavra mais deturpada é, evidentemente, "liberdade", um termo tão usado nos Estados totalitários como em qualquer outro lugar. Pode-se mesmo dizer que, sempre que a liberdade que conhecemos foi aniquilada, isso se fez em nome da nova liberdade prometida ao povo.
"

"Quase não nos ocorre hoje que o socialismo era, de início, francamente autoritário. Os autores que lançaram as bases do socialismo moderno não tinham dúvida de que suas idéias só poderiam ser postas em prática por um forte governo ditatorial. (...) No que se referia à liberdade, os fundadores do socialismo não escondiam suas intenções. Eles consideravam a liberdade de pensamento a origem de todos os males da sociedade do século XIX, e o primeiro dos planejadores modernos, Saint-Simon, chegou a predizer que aqueles que não obedecessem às comissões de planejamento por ele propostas seriam 'tratados como gado'."

BACUARA: Friedrich August Von Hayek

sábado, 13 de março de 2010

MAJESTAS SEM POMPA


Como imaginar o Brasil da Nova República? Talvez não seja mau começar por uma constatação: a de quanto o nosso país, até aqui, já conseguiu desmentir os estereótipos mais renitentes sobre a América Latina em seu conjunto

Graças a seu senso histórico-filosófico do papel do Estado, Tancredo regenera a noção da autoridade legítima entre nós. Daí a tranqüila, suave impressão que cerca, nesse homem proverbialmente afável, o sentido no entanto vivíssimo da autoridade. Reparem nas montanhas de Minas: delas emana uma majestade amena, muito diversa da monumentalidade abrupta de outros relevos. Algo semelhante deflui da imago potestatis de Tancredo. Essa majestas sem pompa, mas sempre cônscia da própria dignidade, é a que melhor consulta os requisitos do poder em reconstrução na transição democratizante. (...) No discurso de Vitória, Tancredo preconizou o reforço da democracia e a reanimação do princípio federal. O poder, na Nova República, admite, deseja desconcentrar-se. E pode fazê-lo, porque o que perder em concentração será ganho em autoridade. No ciclo atribulado da nossa Quarta República, Juscelino nos ensinou o convívio com o desenvolvimento. A grande, sóbria esperança da Nova República é que com Tancredo, nosso príncipe civil, a nação interiorize de vez a vivência da democracia. Qualquer coisa aquém disso seria indigna do Brasil moderno.


BACUARA: José guilherme Merquior

SÓ CRÍTICA!...



A obra de Marx é de "Crítica" - crítica monumental pela extensão, amplitude e vigor - "ao processo capitalístico de produção". Suas grandes afirmações - ambas amplamente desmentidas pela experiência - de que nos países capitalistas os salários reais demonstram uma tendência secular para o declínio e de que as depressões têm uma tendência secular a se tornarem cada vez mais graves são obra de pura crítica. Em matéria de construção, quanto ao tipo de sociedade e de economia que deveria
substituir a que ele batizou de "capitalismo", nem uma PALAVRA.

BACUARA: Eugênio Gudin

sexta-feira, 12 de março de 2010

AGRADECIMENTO


Eu poderia tentar justificar-me alegando que esperava o recebimento do texto completo para lhe escrever. Mas a verdade verdadeira é que, desde a leitura das primeiras páginas, me bateu uma espécie de inibição que conheço bem, por ser velha companheira de minhas emoções mais puras. Se você estivesse ao meu lado nos momentos de leitura, decerto acharia graça na dificuldade e confusão das palavras que eu lhe dissesse. Talvez até nem dissesse nenhuma. E na minha cara a encabulação visível diria tudo... ou antes, não diria nada, pois o melhor da sensação escapa a esse código fisionômico. Senti-me confortado, vitalizado, vivo. Meus versos saem sempre de mim como enormes pontos de interrogação, e constituem mais uma procura do que um resultado. Sei muito pouco de mim e duvido muito — você vai achar graça outra vez — de minha existência. Uma palavra que venha de fora pode trazer-me uma certeza positiva ou negativa. A sua veio com uma afirmação, uma força de convicção que me iluminou por dentro. E também com uma sutileza de percepção e valorização crítica diante da qual me vejo orgulhoso de nobre orgulho e... esmagado. Eis aí, meu caro Merquior. Estou feliz, por obra e graça de você, e ao mesmo tempo estou bloqueado na expressão dessa felicidade.


BACUARA: Carlos Drumond de Andrade


CLAMOR NOBRE


O liberalismo - convém lembrar isso hoje - é a forma suprema de generosidade; é o direito que a maioria concede às minorias e constitui, por isso, o clamor mais nobre que já ressoou neste planeta. anuncia a determinação de conviver com o inimigo que é fraco. Era inacreditável que a espécie humana tivesse chegado a uma atitude tão nobre, tão paradoxal e refinada, tão difícil de manter, tão antinatural. Não deve, pois, surpreender que logo pareça essa mesma espécie disposta a abandoná-la. É uma disciplina demasiadamente difícil e complexa para lançar raízes profundas na terra.

BACUARA: José Ortega Y Gasset

quinta-feira, 11 de março de 2010

INDIFERENÇA


De tanto ver, a gente banaliza o olhar - Vê… não-vendo. Experimente ver, pela primeira vez, o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é: o que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa retina é como um vazio.
Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que você vê no caminho, você não sabe. De tanto ver, você banaliza o olhar.
Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall do prédio do seu escritório. Lá estava sempre, pontualíssimo, o mesmo porteiro. Dava-lhe bom dia e às vezes lhe passava um recado ou uma correspondência. Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer. Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia? Não fazia a mínima idéia. Em 32 anos, nunca conseguiu vê-lo. Para ser notado, o porteiro teve que morrer. Se um dia no seu lugar estivesse uma girafa, cumprindo o rito, pode ser, também, que ninguém desse por sua ausência.
O hábito suja os olhos e baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver: gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos.
Uma criança vê o que um adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de tão visto, ninguém vê. Há pai que raramente vê o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher.
Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos. É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.


BACUARA: Otto Lara Resende

METAMORFOSE


"Ponha-se na presidência qualquer medíocre, louco ou semi-analfabeto e vinte e quatro horas depois a horda de aduladores estará à sua volta, brandindo o elogio como arma, convencendo-o de que é um gênio político e um grande homem, e de que tudo o que faz está certo. Em pouco tempo transforma-se um ignorante em um sábio, um louco em um gênio equilibrado, um primário em um estadista. E um homem nessa posição, empunhando as rédeas de um poder praticamente sem limites, embriagado pela bajulação, transforma-se num monstro perigoso".

BACUARA: Olímpio Mourão Filho

quarta-feira, 10 de março de 2010

O CRUCIFIXO E A PENA DE MORTE


"O verdadeiro culpado neste assunto, se há algum, não é meu filho: sou eu!"

O tribunal agita-se com o brado do orador. Ele bate com a mão no peito - e repete:
"Sou eu
"Eu que há vinte e cinco anos tenho combatido, sob todas as formas, as penas irreparáveis. Eu que venho defendendo em todas ocasiões a inviolabilidade da vida humana!"

O orador se agiganta - e o seu ardor chega ao auge:
"Esse crime (o de combater a pena de morte) cometi-o muito antes do meu filho. E me denuncio, senhores! Cometi-o com todas circunstâncias agravantes - com premeditação, com tenacidade, com reincidência!"
Uma pausa - e Hugo continua patético:

"Sim, o declaro; esse resto de penalidades selvagens, essa antiga e odiosa lei de Talião, essa lei de sangue por sangue, a tenho combatido em toda minha vida, senhores jurados; e enquanto houver, em meu peito, alento, hei de combatê-la com todas as minhas forças de escritor, em todos os meus atos de legislador. Eu o declaro (o orador extende o braço para o crucifixo que aparece no fundo da sala) ante essa vítima da pena de morte que está aí, que nos vê e que nos ouve! Juro ante esse patíbulo, no qual para o eterno ensinamento das gerações, faz dezenove séculos que a lei humana afrontou a lei divina!"
"Isso que meu filho escreveu, só o escreveu porque eu o inspirei desde a infância, porque, ao mesmo tempo que é meu filho, segundo o sangue, é meu filho segundo o espírito; porque quer continuar a tradição de seu pai! Eis aí um delito estranho e pelo qual me admiro que se queira persegui-lo!" (...).... (...).... (...)
"Filho meu! Hoje recebes uma grande honra, olhado como um ser digno de lutar, de sofrer talvez, pela santa causa da verdade. Hoje, entras melhor na verdadeira vida viril de nossa época, ou seja, na luta pelo justo e pelo verdadeiro. Orgulha-te! Tu, que não passavas de um obscuro soldado da ideia humana e democrática, estás sentado nesse banco que já foi ocupado por Béranger e Lamennais. Permaneças inquebrantável em tuas convicções - e que sejam estas as minhas últimas palavras: se tivesses necessidade de um pensamento para afirmar-te em tua fé no progresso; em tua crença no porvir; em tua religião pela humanidade; em tua execração pelo patíbulo, em teu terror as penas indefensáveis e irreparáveis, pensa, meu filho que estás sentado no mesmo banco onde se sentou Lesurques!"

BACUARA: Victor Hugo

VIVO CANALHA, MORTO CANALHA É


"Minhas memórias nasceram da minha disponibilidade. Meu único critério é ser fiel a mim mesmo, dizer sempre a verdade. Mesmo a morte não altera para mim, os sentimentos afetivos. Não transformaria canalhas em santos só porque já morreram. Só escrevo o que penso. O ato de escrever me desoprime, é mesmo uma libertação."

BACUARA: Pedro Nava

LIBERDADE CIVIL


"Os homens estão preparados para a liberdade civil na proporção exata de sua disposição a reprimir moralmente seus apetites; na proporção em que seu amor à justiça estiver acima de sua rapacidade; na medida em que sua objetividade e sobriedade de compreensão estiverem acima de sua vaidade e presunção; na medida em que estiverem mais dispostos a ouvir o conselho dos sábios e dos bons e não as bajulações dos patifes".

BACUARA: Edmund Burke

terça-feira, 9 de março de 2010

LEGISLATURA EM SESSÃO


No último uísque, Merquior me contou um chiste anônimo, que circulava em Londres: "A natureza deu ao homem um pênis e um cérebro, mas insuficiente sangue para fazê-los funcionar simultaneamente".Ao confidenciar a Merquior que pretendia aposentar-me do Itamaraty para ingressar na política, lembrou-me ele a lei de Hubert Humphrey, vice-presidente dos Estados Unidos na administração Lyndon Jonhson, que dizia: "É verdade que há vários idiotas no Congresso. Mas os idiotas constituem boa parte da população e merecem estar bem representados".Tendo em vista minhas ambições políticas, combinamos fabricar conjuntamente uma lei, que passaria à posteridade como a lei Campos/Merquior: "A política é a arte de fazer hoje os erros do amanhã, sem esquecer os erros de ontem".Ao nos despedirmos, já mais sóbrios, lembrei-me de duas leis. A lei do King Murphy, que assim reza: "Não estão seguras a vida, a liberdade e a propriedade de ninguém enquanto a legislatura estiver em sessão". E a lei do sábio Montesquieu, o inventor da teoria da separação de poderes: "O político deve sempre buscar a aprovação, porém jamais o aplauso".Em minha vida política no Senado e na Câmara, procurei descumprir a lei de King Murphy e cumprir a lei de Montesquieu. Sem resultados brilhantes nem num caso nem no outro...

BACUARA: Bob Campos

QUANTUM SATIS


"O mais rico não é quem tem ganância
de ouro e prata em inútil abundância,
numerosos rebanhos e manadas,
cavalos, mulas, terras cultivadas,
mas, ao contrário, o que possui somente
roupa que o vista e cibo que o sustente;
se, além disso, entretanto, pode ter
de esposa e filho o divinal prazer,
vendo a beleza à mocidade unida,
então será perfeita a sua vida".

BACUARA: Sólon de Atenas

segunda-feira, 8 de março de 2010

ARROGÂNCIA PERDOADA



"Um dos homens públicos mais eminentes de toda a nossa História. Conheci o doutor Bulhões em 1958. (...) Na época, eu era um engenheiro recém-formado de 23 anos, com especialização em engenharia econômica e, modéstia à parte, uma bela bagagem matemática. Na minha arrogância juvenil, estava convencido de que a solução de todos os problemas brasileiros seria providenciada pelos jovens economistas matemáticos, iniciados em técnicas desconhecidas pela velha geração, como a pesquisa operacional, a econometria e a cibernética. (...) A finura da personalidade de Bulhões conquistou-me de imediato, mas foi preciso algum tempo para que eu entendesse sua superioridade como economista."

BACUARA: Mário Henrique Simonsen

A BESTA TRÁGICA



As cartas de Marx mostram que ele era imperialista, colonialista, racista, genocida, que queria a destruição dos povos miseráveis e “sem história”, os quais chama de “piolhentos”, de “anões”, de “suínos” e que não mereciam existir. Esse é o Marx de verdade, não o da nossa fantasia, não o do nosso delírio, mas o sem retoque, o Marx tragicamente autêntico.

BACUARA: Nelson Rodrigues

EU TENHO LADO PÔ...


Bati no peito
Ora, quem me detesta ainda não sabe da minha metade. Bati no peito, lá na mesa, e não tinha como ser contestado: “Fui eu que denunciei os arroubos totalitários do Programa Nacional-Socialista dos Direitos Humanos”. E ainda brinquei: “Estava de férias, na praia, meio bêbado, já tinha tomado umas caipirinhas quando li aquele troço”. E foi assim mesmo. EU NÃO FUI O PRIMEIRO A LER A ESTROVENGA. Outros já o haviam feito. EU FUI O PRIMEIRO A SE ESPANTAR COM AQUELA PORCARIA, ENTENDERAM? Houve quem certamente achasse razoável que se pudesse fechar um jornal ou cassar uma emissora por “desrespeito aos direitos humanos” sem nem indagar quem seriam os juízes. E, sim, COMEÇOU AQUI UMA REAÇÃO QUE SE ESTENDEU BRASIL AFORA E QUE FOI NOTÍCIA EM VÁRIOS PAÍSES.

O meu lado
O meu lado é o da Constituição. O meu lado é do estado de direito. O meu lado é das leis democraticamente instituídas. O meu lado é do devido processo legal. Eu não sou isento em relação a nada disso. Eu não admito “outro lado” para nenhuma dessas coisas. E considero contaminados pelo “isentismo” e pelo “outro-ladismo” setores da imprensa que acreditam que se podem transgredir as leis para fazer justiça social. Repudio tal prática porque, na marcha em que vai, chegará o dia em que vagabundo vai querer me censurar porque vai considerar que as minhas opiniões não são “SOCIALMENTE JUSTAS” o bastante.

BACUARA: Reinaldo Azevedo

domingo, 7 de março de 2010

A TAL DA CULTURA


A cultura serve para vivermos melhor. Não para sermos mais felizes. Ou virtuosos. Ou sabedores. Mas para retirarmos algum prazer mundano. É esse prazer que, de certa forma, redime os males inevitáveis da nossa condição.

E quantas vezes eu pensei nisso? Incontáveis, leitores. Incontáveis. A primeira, creio, foi assistindo a um filme de Woody Allen, "Manhattan" (1979), em que a personagem decide registar as razões pelas quais vale a pena viver. São as minhas razões. Aquele livro. Aquele filme. Aquela música. Aquele rosto da pessoa que amamos. A memória daquela cidade.

BACUARA: João Pereira Coutinho

HIPOCRISIA DELIRANTE



Luiz Inácio Lula da Silva, governante eleito em eleições legítimas, presidente constitucional de um país democrático como o Brasil, seria de esperar, pelo menos, uma atitude um pouco mais digna e coerente com a cultura democrática que teoricamente ele representa, e não o descaramento indecente de exibir-se, risonho e cúmplice, com os assassinos virtuais de um dissidente democrático, legitimando com sua presença e seu proceder a caçada de opositores desencadeada pelo regime no mesmo instante em que ele era fotografado abraçando os algozes de Zapata.

O curioso e terrível paradoxo é que no interior de um dos mais desumanos e cruéis regimes que o continente conheceu se encontrem hoje os mais dignos e respeitáveis políticos da América Latina.

BACUARA: Mario Vargas Llosa